sábado, abril 15, 2006

Não quero rosas desde que haja rosas



Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?

Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.

Para quê?... Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria...
Ah, com que esmola a aquecerei?...

Fernando Pessoa, 7-1-1935.

1 comentário:

Anónimo disse...

“Se o soubesse, não faria/Versos para dizer que inda o não sei”…porque o não sabermos o que o amanhã nos reserva pode ser uma fonte de inspiração para Viver, pode (e deve!) levar o Homem a aproveitar cada dia, (a)colhê-lo carinhosamente. Este desconhecimento deve, então, fortalecer a capacidade que o Homem tem para o Sonho, “a esmola” que recebe, dada a limitação à qual está sujeito desde o momento em que nasce – o encontro entre o Homem e o Nada, a Sombra!
Triste daquele que não sonha! Não ter rosas vermelhas vermelhas a brotar de um beijo, não ter o azul azul de dois corpos na noite…afinal “Sem a loucura que é o homem / mais que a besta sadia / cadáver adiado que procria?”
E como já disseste uma vez… não importa concretizar o Sonho, alcançar o Ideal, torná-lo palpável aos nossos sentidos, importa (e isto sim!) todo o percurso… “Pelo sonho é que vamos/Comovidos e mudos./Chegamos? Não chegamos?/Haja ou não haja frutos/Pelo sonho é que vamos/Basta a fé no que temos,/Basta a esperança naquilo/Que talvez não teremos/Basta que a alma demos,/Com a mesma alegria, ao que desconhecemos/E ao que é o dia-a-dia./Chegamos? Não chegamos?/Partimos. Vamos. Somos.” (um dos meus preferidos…)

Bijitos...e pra próxima vou tentar ser mais breve eheheheh...xorry...